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acho que nasci na geração errada

Escrito por
Yuri Cunha
Yuri Cunha
Publicado em
14 de dez. de 2024
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acho que nasci na geração errada

Outro dia, perdido em pensamentos, tive inúmeras certezas de que nasci na geração errada. Que possuo valores ignorados por muitas das pessoas com quem interajo hoje. E assim, vivo cada vez mais o conflito de me sentir ainda mais solitário, mesmo estando cercado por pessoas que banalizam aquilo que não vejo como aceitável. Sim, também sou um romântico, e não quero ver problema nisso. Sim, sinto falta de quando as pequenas coisas eram valorizadas, e tenho o direito de reproduzir e acreditar no que considero importante, mas que está ausente em nossos relacionamentos.

Fico imaginando como seria louco, enviar uma carta para alguém hoje e saber que a resposta demoraria a chegar. E que essa resposta poderia vir em um cartão-postal com uma foto, acompanhada de um rastro de batom, exalando o perfume que intoxica ao ser lido e dá aquele gostinho de presença. A verdade é que, naquele contexto, sabíamos a importância de esperar, o esforço necessário para cultivar um relacionamento de amizade ou amor. Estávamos cientes de como tudo era difícil de conquistar, e por isso havia um senso de valor muito maior. Hoje, alguns relacionamentos começam e terminam, e as pessoas realmente só conhecem os emoticons usados, as poses preferidas em fotos de redes sociais, a forma como a pessoa utiliza reticências e quase nunca usa vírgulas. Mas sabiam tão pouco da voz, tão pouco das emoções, tão pouco de realmente olhar nos olhos uns dos outros.

Hoje, muitas vezes, nos pegamos medindo a atenção que o outro nos dá pela rapidez com que lê e responde nossas mensagens. E só o fato de essa mensagem não ser respondida já é motivo suficiente para declarar guerra, para semear a confusão. Porque, na urgência em que vivemos, já não sabemos mais esperar. É o preço que pagamos por viver dias corridos em nossas obrigações, com proximidade virtual e uma distância real tremenda.

No tempo dos meus pais, no dos meus avós, os relacionamentos realmente terminavam. Hoje, mal começam e muitas vezes nem terminam. E assim como começaram, de maneira aleatória numa conversa de chat despretensiosa, terminam com uma mensagem ignorada no WhatsApp, um unfollow no Twitter e mil subtweets no Facebook. Hoje, as pessoas vivem a covardia de terminar um relacionamento via SMS e acreditam que uma história pode ser interrompida tão sutilmente, com alguns caracteres sem expressão, com pouca explicação, sem demonstrar a certeza de suas decisões. É horrível ter que acabar com algo, mas qual é a razão para terminá-lo de uma forma tão egoísta e imparcial? Sempre foi difícil ter aquela conversa sobre “precisamos conversar”. Mas ainda prefiro olhar nos olhos de alguém, expressar minhas opiniões, minhas insatisfações, ouvir a verdade sair de sua boca, mesmo que eu não concorde, mas sabendo respeitá-la. E acho que isso vale muito, mas para muitos, já não significa nada.

Não temos a obrigação de gostar de alguém, mas deveríamos ter a obrigação de respeitar, de nos colocarmos no lugar do outro. Mas é triste como cada vez mais ninguém respeita, como não há preocupação com nada além de si mesmos. As pessoas convivem com um desrespeito aqui e ali e começam a achar isso normal, tornando-se mais uma para propagar algo que deveria ser totalmente inaceitável. Vivemos em uma geração repleta de pessoas mimadas. Pessoas que cada vez mais fogem de suas responsabilidades. Que só querem o lado bom da vida, mas entram em pânico quando se deparam com dificuldades. Pessoas que são ótimas em viver por uma noite, mas mal sabem como viver um mês dedicados a alguém. Pessoas que sabem exatamente o que dizer para convencer alguém a viver alguns momentos, mas não sabem o que fazer para manter alguém verdadeiramente ao seu lado. Querem viver a vida com urgência, com o discurso clichê de que é preciso ser feliz e desapegado, levantando a bandeira de que todos os prazeres da vida devem ser vividos. Acham que os fins justificam os meios, mesmo que precisem enganar, usar pessoas, fingir sentimentos, fazer de conta que são alguém que não são.

Sempre que alguém está prestes a fazer algo por outra pessoa, deveria se perguntar: Se fosse eu, como me sentiria? Gostaria ou odiaria?

Mas a verdade é que as pessoas parecem estar se acostumando a querer muito enquanto dão pouco. Acreditam que tudo deve ser temporário, temendo finais, apegos. Teme-se o fim das risadas, quando a mesa não estiver mais cheia, quando não houver mais piadas, mais bons momentos. E assim vivem com o outro enquanto houver algo a ganhar, algo para aproveitar. Contanto que tudo esteja bem, contanto que viver seja um bom momento. Uma mistura de egoísmo com uma alta dose de interesse próprio. Acho que isso explica as mesas cheias nos bares e os quartos vazios nas visitas aos hospitais. Isso explica aqueles que nos abandonam quando mais precisamos deles.

Mas muitos, ao ler isso, podem dizer que, na nossa geração, apesar desses problemas, tudo se tornou mais fácil. Que hoje não ligamos no telefone ou no celular, mas usamos chamadas gratuitas pela internet e videochamadas para fazer o mesmo. Mas então eu pergunto, quantos realmente fazem isso? A grande maioria se contenta com palavras, pois são facilmente manipuladas. Muito pode ser dito sem se preocupar com a verdade, sem se preocupar com as expressões, se alguém está rindo ou não. Se está chorando ou não. Olhe ao redor. As pessoas estão juntas, mas não largam seus telefones. Estão presentes, mas mais preocupadas em tirar fotos para ostentar nas redes sociais. Perdem tempo quando deveriam estar olhando umas para as outras, se amando, desfrutando do momento e do lugar, tentando encontrar o melhor ângulo para fotografar e mostrar o quão especial aquele momento é. Mas se realmente fosse tão especial, nem se lembrariam de tirar uma foto. Quando algo é verdadeiramente inesquecível, e estamos ocupados desfrutando, até esquecemos de tirar muitas fotos, porque ouvir a voz do outro, estar presente, beijar, abraçar, aproveitar é realmente o mais importante.

Antes, quando fazíamos uma ligação, isso nos custava algo. Era um sacrifício. Receber uma ligação e ouvir o “Alô” daquela pessoa valia uma declaração de amor. Era a prova de que a pessoa realmente sentia nossa falta, se importava e sentia a ausência. Antes, sabíamos o valor da caligrafia, gastávamos muito tempo escrevendo cartas, e a paquera era muito mais divertida. Havia aquele momento de observar, de trocar olhares. A outra pessoa era verdadeiramente um mistério para nós. Não conhecíamos seus gostos porque não a espionávamos no Facebook antes. Iniciar uma conversa era um pouco intrigante, mas era muito mais emocionante por ser pessoal, sem tantas pretensões. E para conhecer novas pessoas, precisávamos nos forçar a sair da nossa zona de conforto e enfrentar o mundo. Hoje, o charme de uma verdadeira conquista se perdeu. Porque já começou a se tornar raro em muitos casos. Em outras palavras, hoje tudo é facilmente conquistado, mas também facilmente descartado. Vivemos na obsolescência programada entre nós.

Hoje, as pessoas declaram muito mais o que querem e, por causa disso, já não há muita conversa, apenas uma pequena disposição de ambos, o suficiente para fazer algo naquele momento. Hoje, temos aplicativos para conseguir um relacionamento. Escolhemos pessoas como se fossem objetos em uma vitrine. Estamos jogando fora nossos valores internos e lutando cada vez mais para melhorar nosso exterior, pois em relacionamentos tão superficiais, não há tempo para demonstrar outra coisa. O que importa é sempre melhorar a aparência, camuflar a idade e cultivar algumas preferências e qualidades tão desgastadas quanto dizer que você é perfeccionista em uma entrevista de emprego. E ali mesmo, marcamos um encontro, trocamos algumas palavras, e o que antes levava muito mais tempo e era mais valorizado agora é alcançado muito rapidamente e é menos apreciado. Não importa com quem, contanto que, no final, possamos ter o máximo de prazer. No final, a noite tem que ter valido a pena, para que possamos jogar fora nossa tensão. Ela vem, acontece, vai embora, e pronto.

E continuamos vivendo como solteiros, mas com a ilusão de que nunca estamos sozinhos. Nos contentamos com migalhas por medo da solidão. Mas talvez o que ninguém percebeu é que, apesar de nossas escolhas, no futuro, a beleza se esgotará, as pessoas ficarão ainda mais acostumadas a descartar, a não valorizar, apenas a cultivar o superficial. Nosso destino será bastante cruel, pois nos veremos como objetos descartados e que ninguém mais quer. Porque o que restou em nós, que deveria ter sido tão importante, foi ensinado por nós a ser banalizado. E de fato, estaremos em completa solidão. Ainda solteiros, mas já não viveremos a ilusão de estarmos sozinhos; seremos definitivamente abandonados.

E com tanto uso da tecnologia, estamos nos tornando pessoas cada vez menos reais, vivendo realidades virtuais. Achamos que na vida tudo deve acontecer quase à velocidade da luz, na velocidade de um e-mail ou de uma mensagem de WhatsApp. Aceleramos tanto as coisas, perdidos em uma correria sem razão, quando deveríamos começar a reaprender a viver os momentos com mais calma. Reaprender o quão importante é valorizar e ter os outros, ter uma amizade, um amor.

A verdade é que os relacionamentos amorosos hoje duram menos porque estamos sempre correndo para viver tudo o que podemos o mais rápido possível. E terminam porque, obviamente, tudo acontece tão rápido que perde seu encanto. E hoje, não tentamos consertar nada. Na primeira falha ou decepção, a pessoa vai e chama a próxima da fila. Já não nos esforçamos, pois, antes mesmo de vermos se vale a pena, nos entregamos por completo, sem cautela, desconsiderando nosso autorrespeito. E quando alguém se sente no direito de desacelerar, muitas vezes o outro não entende e se precipita para viver outras histórias que lhes permitam aproveitar o que está sendo negado naquele momento. Mas isso é realmente importante? Precisa ser assim? E aqueles que usam o pretexto de tentar preencher as lacunas de um relacionamento, recorrendo à traição? Engraçado como aqueles que traem, muitas vezes, não querem ser traídos. Em outras palavras, querem tudo para si e nada para os outros. E vamos continuando a nos perder em nossos desejos.

E muitos continuam assim, sempre justificando as urgências, tudo é uma emergência. A urgência é viver. Mas o que é realmente viver? Até onde precisamos ir nessa busca incessante por viver apenas o que é bom? E quanto tempo viveremos sem saber o valor da simplicidade da vida nos pequenos momentos? Nos grandes esforços? Quando vamos perceber que a vida não é só prazer, não é só sexo, e que a vida está longe de ser esse mundo colorido que as pessoas postam? Quando vamos perceber que estamos nos perdendo em nossas liberdades? Quando aprenderemos que a tecnologia nos ajuda a nos aproximar, mas a proximidade física não pode ser negligenciada? Não podemos deixar de olhar nos olhos uns dos outros. Devemos abraçar nossas evoluções sem desvalorizar aquilo que jamais deveria ter saído de moda.

Espero que as pessoas continuem percebendo que um sorriso vale mais do que um “=D”. Que uma declaração de amor feita pessoalmente, um abraço, algumas palavras sinceras, valem mais do que um “S2” ou um “<3”. Espero que as pessoas não substituam o som encantador da risada do outro por um falso “hahahaha”. Precisamos estar próximos virtualmente, mas ainda mais próximos para um aperto de mão. O que somos por fora é importante, mas o que temos por dentro é muito mais impressionante. Antes de ferir o outro, antes de usar uns aos outros, descartando pessoas como objetos, nunca devemos esquecer que, dentro de cada um de nós, bate um coração que, apesar de ferido e descrente, só espera pelo momento em que será verdadeiramente amado pelo que realmente é. Que não queremos apenas uma mensagem lida e respondida, queremos ser vistos e retribuídos. Que continuemos vivendo nossas vidas aceleradas, muito comprometidos, mas sabendo apreciar o doce sabor da espera, vivida sem medo. Que aprendamos a podar as liberdades que podem nos distanciar de nós mesmos. A vida foi feita para ser, e não para ter. Que nunca nos percamos em nossos devaneios, que nunca deixemos de ser quem realmente somos. Não podemos nos deixar aprisionar pela liberdade imprudente dos outros. Merecemos amor, merecemos mais calma, mais respeito. Merecemos viver de forma mais lenta. Quem tem pressa pode passar; lá na frente, todos estaremos no mesmo lugar.

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Última atualização: 14 de dez. de 2024