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Nasci na geração errada

Escrito por
Yuri Cunha
Yuri Cunha
Publicado em
21 de mar. de 2024
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Nasci na geração errada

Acho que muitas pessoas já devem ter lido sobre o quanto eu gosto de ficar sozinho e, de um modo geral, para mim isso está bem, mas admito e confesso: eu gostaria de ter alguém.

Sabe, ultimamente, durante minhas caminhadas sem rumo ou naqueles momentos em que começo a refletir sobre a vida, tenho pensado em como eu gostaria de ter alguém por perto. E quando digo "por perto", refiro-me a uma namorada.

Chegou a ser quase um consenso que eu morreria sozinho, e quando digo morrer sozinho, quero dizer sem amigos e sem uma garota com quem eu pudesse – ou devesse – compartilhar a vida. Não que eu veja um problema extremamente grande nisso, mas, como já mencionei, era praticamente um consenso.

Ouvi do meu tio que eu morreria como ele, sem amigos, com uma certa quantia de dinheiro no banco, mas triste e feliz ao mesmo tempo. E o pior é que eu já tinha aceitado isso. Já me repeti muitas vezes: "Eu vou morrer sozinho e está tudo bem", e realmente tinha em mente que estava aceitável. Contudo, hoje em dia, apesar de eu aceitar isso, sinto um grande desejo de ter alguém... Mas, para mim, é extremamente difícil ter ou encontrar alguém.

Sou um cara muito lógico e não muito sentimental. Não finjo nem minto, falo a verdade de forma direta, sem rodeios. Não me contenho nas palavras; não há suavização dos fatos. Também sou um rapaz com valores morais antigos, tanto que há uma frase que gosto muito e que diz: "Às vezes sinto que nasci na década errada. Tenho princípios que se perderam e amo coisas que não são mais valorizadas", e isso nem vem perto de ser uma piada de bom ou mau gosto.

Possuo valores ignorados por muitas das pessoas com quem interajo hoje. E, assim, vivo cada vez mais o conflito de me sentir ainda mais sozinho, mesmo estando cercado por pessoas que banalizam o que não considero aceitável. Sim, sou um romântico, e não vejo problema nisso. Sim, sinto falta de quando as pequenas coisas eram valorizadas, e tenho o direito de nutrir e acreditar no que acho importante, mas que está ausente em nossos relacionamentos.

Fico imaginando como seria louco enviar uma carta hoje para alguém e saber que a resposta demorará a chegar. E que essa resposta pudesse vir num cartão-postal com uma foto, acompanhado de um rastro de batom e o perfume que intoxica ao ser lido, trazendo aquele gostinho de presença. A verdade é que, naquela época, sabíamos a importância de esperar, o esforço necessário para cultivar uma amizade ou um relacionamento amoroso. Estávamos cientes de como tudo era difícil de conquistar, e por isso havia um senso de valor muito maior. Hoje, alguns relacionamentos começam e terminam, e as pessoas acabam conhecendo apenas os emojis usados, as poses preferidas em fotos nas redes sociais, a forma como a pessoa utiliza reticências e quase não usa vírgulas. Mas pouco se conhece a voz, as emoções, o verdadeiro olhar nos olhos uns dos outros.

Hoje, muitas vezes, nos pegamos medindo a atenção que o outro nos dá pela rapidez com que visualiza e responde nossas mensagens. E se essa mensagem não é respondida, já é motivo para declarar guerra, para iniciar uma confusão. Porque, na urgência em que vivemos, já não sabemos esperar. É o preço que pagamos por viver dias apressados, repletos de obrigações, com proximidade virtual e distâncias reais enormes.

No tempo dos meus pais e avós, os relacionamentos realmente terminavam. Hoje, mal começam e muitas vezes nem terminam. E, assim como começavam em uma conversa casual de chat, terminam com um simples "ignorado" no WhatsApp, um unfollow no Twitter e mil indiretas no Instagram. Atualmente, as pessoas demonstram a covardia de terminar um relacionamento por SMS ou WhatsApp e acreditam que uma história pode ser interrompida sutilmente, com alguns caracteres sem expressão, sem muita explicação, sem mostrar a certeza de suas decisões. É realmente horrível ter que acabar com algo, mas qual seria o motivo para terminar de forma tão egoísta e imparcial? Discutir o relacionamento e aquele clássico "precisamos conversar" sempre foi difícil. Mas eu ainda prefiro olhar nos olhos, expressar minhas opiniões, minhas insatisfações, ouvir a verdade sair da boca da pessoa, mesmo que eu não concorde, mas sempre com respeito. E acredito que isso vale muito, embora para muitos já não signifique nada.

É triste ver como cada vez menos as pessoas se respeitam; não há preocupação com nada além de si mesmas. As pessoas vivem desrespeitando aqui e ali e acabam achando isso normal, tornando-se mais uma para propagar algo que deveria ser totalmente inaceitável. Vivemos numa geração repleta de mimados. Pessoas que cada vez mais fogem de suas responsabilidades. Que só querem ver o lado bom da vida, mas entram em desespero quando se deparam com dificuldades. Pessoas que são excelentes em viver uma noite, mas mal sabem como viver um mês dedicados a alguém. Pessoas que sabem exatamente o que dizer para convencer alguém a viver alguns momentos, mas não sabem o que fazer para realmente manter alguém ao seu lado. Querem viver a vida com urgência, com aquele discurso cansado de que é preciso ser feliz e desapegado, agitando a bandeira de que todos os prazeres da vida devem ser vividos. Acreditam que o fim justifica os meios, mesmo que precisem enganar, usar pessoas, fingir sentimentos, fazer de conta que são alguém que não são.

Sempre que alguém vai fazer algo por outra pessoa, deveria se perguntar: Se fosse eu, como me sentiria? Gostaria ou odiaria? Sim, você sabe que sou indiferente em relação à maioria das coisas, mas o que expliquei – e muitos podem não ter entendido, percebido ou deixado passar – é que não nutro antipatia; apenas faço o meu melhor para não criar ou me envolver em problemas dos outros que não têm relação direta comigo.

A verdade é que as pessoas parecem estar se acostumando a querer muito enquanto dão pouco. Acreditam que tudo deve ser passageiro por medo dos resultados, dos apegos. Temem o fim das risadas, quando a mesa não estiver mais cheia, quando não houver mais piadas ou bons momentos. E assim vivem juntos enquanto houver algo a ganhar, algo para aproveitar. Contanto que tudo esteja bem, contanto que viver seja um bom momento. Uma mistura de egoísmo com uma alta dose de interesse. Acho que isso explica os bares cheios e os quartos vazios durante as visitas a hospitais. Explica também quem nos abandona quando mais precisamos.

Mas muitos, ao ler isso, podem dizer que, na nossa geração, apesar desses problemas, tudo se tornou mais fácil. Que hoje não ligamos mais para o telefone ou celular, mas usamos chamadas gratuitas pela internet e videochamadas para o mesmo fim. Mas então pergunto: quantos realmente fazem isso? A esmagadora maioria se contenta com palavras, pois são facilmente manipuláveis. Muito pode ser dito sem se preocupar com a verdade, sem se preocupar com expressões, se estão rindo ou não, se estão chorando ou não. Olhe ao redor. As pessoas estão juntas, mas grudadas em seus celulares. Estão presentes, mas mais preocupadas em tirar fotos para ostentar nas redes sociais. Perdem o tempo que deveriam estar se olhando, se amando, desfrutando do momento e do lugar, tentando encontrar o melhor ângulo para registrar e mostrar o quão especial aquele instante é. Mas se realmente fosse especial, nem pensariam em capturá-lo. Quando algo é verdadeiramente inesquecível e estamos ocupados desfrutando, muitas vezes esquecemos de tirar fotos, porque ouvir a voz do outro, estar presente, beijar, abraçar, aproveitar é, de fato, o mais importante.

Antes, para fazer uma ligação, tínhamos que pagar por ela; era um sacrifício. Receber uma ligação e ouvir o “Alô” daquele ser amado era digno de uma declaração de amor. Era a prova de que a pessoa realmente sentia nossa falta, se importava e percebia nossa ausência. Antes, conhecíamos a caligrafia um do outro, gastávamos horas escrevendo cartas, e a paquera era muito mais divertida. Havia aquele momento de observar, de trocar olhares. A outra pessoa era um verdadeiro mistério para nós. Não conhecíamos bem os gostos dela porque não a espionávamos no Instagram ou no Twitter/X antes. Iniciar uma conversa era algo instigante, mas muito mais emocionante por ser feito pessoalmente, sem tanta formalidade. E, para conhecer novas pessoas, precisávamos nos forçar a sair da nossa zona de conforto e encarar o mundo. Hoje, o charme de uma conquista verdadeira se perdeu. Porque, muitas vezes, isso já se tornou algo raro. Em outras palavras, hoje tudo é facilmente conquistado, mas também descartado com extrema facilidade. Vivemos numa espécie de obsolescência programada entre nós.

Hoje, as pessoas declaram muito mais o que querem e, por isso, não sobra muita conversa, apenas uma mínima disposição de ambos, suficiente para fazer algo naquele instante. Hoje temos aplicativos para iniciar um relacionamento. Escolhemos pessoas como se fossem objetos em uma vitrine. Estamos descartando nossos valores internos e lutando cada vez mais para melhorar nossa aparência, pois, em relacionamentos tão superficiais, não sobra tempo para mostrar outra coisa. O que importa é sempre melhorar a beleza, camuflar a idade e cultivar algumas preferências e qualidades tão clichê quanto dizer que somos perfeccionistas em uma entrevista de emprego. E, ali mesmo, marcamos um encontro, trocamos algumas palavras, e o que antes levava muito mais tempo e era mais valorizado agora acontece de forma rápida e é menos apreciado. Não importa com quem, contanto que, no final, possamos ter o máximo de prazer. Que, no fim das contas, a noite tenha valido a pena para aliviar a tensão. Chegar, fazer, acontecer e partir.

E continuamos vivendo solteiros, mas com a ilusão de que nunca estamos sozinhos. Nos contentamos com migalhas quando, no íntimo, queremos muito mais, queremos demais. Mas seguimos com a vida, aceitando migalhas por medo da solidão. Porém, talvez o que ninguém tenha percebido seja que, apesar das nossas escolhas, no futuro a beleza se esgotará, as pessoas ficarão ainda mais acostumadas a descartar, a não valorizar, cultivando apenas o superficial. Nosso destino será bastante cruel, pois nos veremos como objetos descartados, que ninguém mais quer. Porque o que restou em nós, o que deveria ter sido tão importante, foi ensinado por nós a ser trivializado. E, de fato, ficaremos em completa solidão. Continuaremos solteiros, mas não viveremos mais a ilusão de estarmos sozinhos; seremos definitivamente abandonados.

E, diante do uso excessivo da tecnologia, estamos nos tornando pessoas cada vez menos reais, vivendo em realidades virtuais. Achamos que, na vida, tudo deve acontecer quase na velocidade da luz, como um e-mail ou uma mensagem pelo WhatsApp. Aceleramos tanto as coisas, perdidos em uma correria sem sentido, quando deveríamos reaprender a viver os momentos com mais calma. Reaprender o quão importante é valorizar o outro, cultivar uma amizade, um amor.

A verdade é que os relacionamentos amorosos hoje duram menos porque estamos sempre correndo para experimentar tudo o mais rápido possível. E terminam porque, obviamente, tudo acontece tão rápido que perde seu encanto. E hoje não tentamos consertar nada; à primeira falha ou decepção, a pessoa vai e chama o próximo interessado. Já não nos esforçamos, pois, antes mesmo de vermos se vale a pena, entregamo-nos por inteiro, de forma imprudente, desconsiderando nosso amor-próprio. E quando alguém sente que tem o direito de ir mais devagar, muitas vezes o outro não entende e se apressa para viver outras histórias que permitam aproveitar o que está sendo negado naquele momento. Mas isso é realmente importante? Precisa ser assim? E quanto àqueles que usam o pretexto de tentar preencher as lacunas do relacionamento, recorrendo à traição? É engraçado como as pessoas que traem muitas vezes não querem ser traídas. Em outras palavras, querem tudo para si e nada para os outros. E vamos perdendo cada vez mais a nós mesmos em nossos desejos.

E muitos continuam assim, sempre justificando as urgências; tudo se torna uma emergência. A urgência é viver. Mas o que realmente significa viver? Até quando vamos continuar nessa busca frenética de viver apenas o que é bom? E quando vamos perceber o valor da simplicidade da vida nos pequenos momentos? Nos grandes esforços? Quando vamos entender que a vida não é apenas prazer, não é apenas sexo, e que ela está longe de ser esse mundo colorido que as pessoas postam? Quando vamos perceber que estamos nos perdendo em nossas liberdades? Quando aprenderemos que as tecnologias nos ajudam a nos aproximar, mas a proximidade física não pode ser negligenciada? Não podemos deixar de olhar nos olhos uns dos outros. Precisamos celebrar nossos avanços sem desvalorizar aquilo que jamais deveria sair de moda.

Espero que as pessoas continuem entendendo que um sorriso vale mais do que um "=D". Que uma declaração de amor feita pessoalmente, um abraço, palavras sinceras, valham mais do que um “<3” ou um "S2". Espero que não substituam o som agradável da risada do outro por um falso "hahahaha". Precisamos estar próximos virtualmente, mas ainda mais próximos para um aperto de mão. O que somos por fora é importante, mas o que temos por dentro é muito mais impressionante. Antes de ferir o outro, antes de usar uns aos outros, descartando pessoas como objetos, nunca devemos esquecer que, dentro de cada um de nós, há um coração que, apesar de ferido e descrente, só espera o momento em que será verdadeiramente amado pelo que realmente é. Não queremos apenas uma mensagem lida e respondida; queremos ser vistos e correspondidos. Que possamos continuar vivendo nossas vidas com pressa, muito comprometidos, mas sabendo valorizar o doce sabor da espera, vivida sem medo. Que aprendamos a podar as liberdades que podem nos distanciar de nós mesmos. A vida foi feita para ser, e não para ter. Que nunca nos percamos em nossos devaneios, que nunca deixemos de ser quem realmente somos. Não podemos nos deixar aprisionar pela liberdade imprudente dos outros. Merecemos amor, merecemos mais calma, mais respeito. Merecemos viver de forma mais lenta. Quem tem pressa pode seguir em frente; no final, estaremos todos no mesmo lugar.

Ah, de fato, estou na geração errada.

Hoje, encerro por aqui. Se cuidem. Amem uns aos outros. E espero que você encontre aquela pessoa que te ame e esteja ao seu lado até o fim da vida, e que, a cada olhar, seus olhos brilhem reciprocamente.

Encerrando com as seguintes palavras de despedida: Com amor,
Yuri.

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Última atualização: 21 de mar. de 2024