É curioso como, por trás dos sorrisos mais belos e das palavras mais decididas de pessoas que parecem tão realizadas, a realidade nem sempre é como aparenta. É fácil concluir que alguém é feliz ao ver selfies nas redes sociais, fotos apaixonadas, os inúmeros posts que sugerem que a vida profissional dessa pessoa é excelente, que sua saúde está em dia e, claro, que o amor transborda e vai muito bem, obrigado. É sempre muito fácil julgar sem conhecer a verdadeira realidade. E quantas vezes fazemos isso! Mas a verdade é que, em conversas mais sinceras, com cumplicidade e empatia, descobrimos que o castelo de aparências é uma máscara frágil que tantas pessoas usam para convencer a si mesmas de que estão bem, para esconder suas dores. E assim, muitos buscam satisfação no consumismo excessivo, em relacionamentos fugazes e superficiais que jamais saciam de verdade. Existem várias maneiras que usamos para tentar evitar encarar nossos próprios tormentos, medos, dúvidas e nossa própria consciência. Para enfrentar nossas lutas internas.
Mas, frequentemente, acabamos optando pelo que parece mais fácil: fingir que estamos bem. Fingimos sorrir quando, tantas vezes, queremos chorar. Fingimos acreditar em dias melhores quando, na verdade, não sabemos no que acreditar. Evitamos encarar nossos tormentos da maneira correta. E, pior, muitas vezes nos sentimos infelizes e nos comparamos justamente com aquelas pessoas que tentam mostrar uma vida que está longe da realidade. E, a partir disso, acreditamos estar preenchidos por um vazio que parece interminável.
Muitos ostentam sorrisos em fotos e no dia a dia. Mas é o travesseiro que acolhe as lágrimas e os lamentos no final de cada dia. É antes de dormir que os fantasmas da realidade vêm nos assombrar. Sempre há um momento em que nossa consciência questiona nossas ações. É quando ela pesa sobre nós pelos erros cometidos ou nos concede a paz de repousar a cabeça no travesseiro em tranquilidade.
E, tão frequentemente, a nostalgia aperta nossos corações, e acabamos sofrendo tanto, sonhando com a possibilidade de voltar no tempo, mas restam apenas memórias dos bons dias. Nos punimos diariamente pelos erros cometidos, que, muitas vezes, nos custaram caro. Não há escapatória, pois, em muitas situações, acabamos sendo reféns de nós mesmos. Carregamos o peso de não termos agido corretamente quando realmente era necessário. Revivemos a podridão deixada por ofensas, agressões, mentiras e traições. E não é incomum guardar rancores, pois não soubemos expulsar o que já não é bom ou valioso. Guardamos mágoas por aquilo que nunca tivemos coragem de enfrentar e aceitar como lição em nossos corações. Culpamos os outros quando mal percebemos que também carregamos uma parte significativa da culpa. Quando deveríamos ter mais empatia. É triste reviver a presença daqueles que jamais deveriam ter retornado, esquecendo que deveríamos ser mais exigentes e nos amar mais. Nos ferimos tanto e ferimos os outros ainda mais, sem saber que, às vezes, precisamos aprender quando é hora de ficar em silêncio, de calar a boca. Porque não há nada a dizer. Não há nada a questionar; basta proteger-se, blindar-se de nossos próprios males e dos dos outros.
Surpreendentemente, quando estamos em uma situação difícil em um relacionamento, em um momento da nossa vida ou mesmo diante de uma decisão que não sabemos como tomar, simplesmente enlouquecemos, recorrendo a amigos, familiares, parceiros, esposos ou esposas. É claro que as opiniões de quem realmente se importa conosco valem a pena ser consultadas e consideradas. Contudo, torna-se cada vez mais evidente o quanto fugimos de encarar quem realmente somos. Fugimos de traduzir nossos sentimentos, de entender sem pressa o que se passa dentro de nós. E assim, recorremos tanto aos outros, mas, no final, os dias passam e continuamos sendo grandes desconhecidos para nós mesmos. Fugimos de compreender quem somos, o que sentimos, o que sonhamos, o que amamos e o que queremos. Achamos que sabemos, quando, na verdade, ainda não exploramos o cerne dos problemas.
Para estar bem, é preciso se redescobrir a cada dia. É necessário buscar, diretamente da fonte, os maiores sonhos e desejos. É preciso libertar-se para ser quem se é de verdade. Sem teatro, sem hipocrisia. Para saber como ser verdadeiramente realizado, precisamos nos conhecer. Conhecer nossas habilidades, mas também saber como atingir o ponto certo da ferida. Passar pelo processo de entender a razão das nossas dores, o motivo das nossas mentiras. E estamos sempre mentindo para nós mesmos. E o que é ainda mais triste é quando nos pegamos mentindo para os outros, especialmente para aqueles que amamos tanto, por medo de reações, julgamentos e consequências.
Mas é tão bom viver de forma leve, liberar o que nos prende, revelar quem realmente somos, sem fazer do outro prisioneiro das ilusões que criamos, das performances que montamos com medo do que pensarão de nossa essência. Precisamos parar com essa besteira de criar um personagem que não nos representa para impressionar os outros, para ser mais compatível com alguém. É tão lindo ser genuíno. E assim, devemos estar em nossos relacionamentos. É cruel demais despertar o amor de alguém através do que nunca fomos, por meio de mentiras que podem vir à tona a qualquer momento e, então, trazer uma grande tristeza. A confiança, uma vez quebrada, pode minar todas as chances de construir algo com os alicerces sólidos da verdade, indispensáveis para relações duradouras.
É necessário ter consciência dos nossos erros, falhas, limitações e, ainda assim, não parar de melhorar. Não parar de nos amar e reconhecer que somos uma obra inacabada, mas que, mesmo com imperfeições, pode ser ainda mais bela. Perceba que se você errou hoje, pode acertar amanhã. Se não perdoou hoje, ainda há tempo para perdoar amanhã. E perdoar é um belo trabalho de limpar a sujeira que ficou dentro de nós. É preciso ter clareza de que isso é um processo de purificação, separado da reconciliação.
Há tantas pessoas infelizes, sempre em busca da felicidade e de um motivo para viver em outra pessoa. E, assim, cometem o erro de projetar nos outros uma responsabilidade que sempre foi exclusivamente nossa, de cada um de nós. Não devemos mais permitir a formação de vínculos emocionais prejudiciais. Despejar no outro o motivo para viver. Acreditar falsamente que sempre precisamos de alguém para nos sentirmos bem. Isso é uma tremenda mentira, uma ilusão dolorosa. O amor é necessário, os relacionamentos são importantes, mas é preciso passar pelo processo do autoconhecimento.
Precisamos parar de olhar somente para os outros e começar a olhar para nós mesmos, refletir sobre nossos comportamentos com as pessoas. Mas, de verdade, sem a barreira do egoísmo que naturalmente existe em nós. Precisamos aprender a nos entender, a aprender a ser feliz sozinhos. A conviver com quem somos e a nos aceitar. Parar de lamentar e finalmente descobrir, dentro de nós, os laços que temos com a vida. Sonhos e desejos são vínculos que devem ser perenes. Quando paramos de sonhar, perdemos nossa conexão com a vida. Quando deixamos de fazer planos, paramos de querer viver. Há tantas pessoas tristes e deprimidas porque olham demais para fora, se preocupando excessivamente com os outros, e esquecem de olhar verdadeiramente para dentro. Esquecemos de ver o essencial que vive em nós, os tesouros e riquezas que possuímos. Tornamo-nos estranhos, incompreendidos por nós mesmos, transbordando de ansiedade, nervosismo, tristeza, depressão e tantas outras coisas destrutivas.
É um erro pensar que a felicidade só existe quando não temos mais problemas. Mas a verdade é que a felicidade se aproxima quando há um compromisso com ela. E quando nos comprometemos a buscá-la, aos poucos, aprendemos a dar menos importância aos problemas. Os problemas nos deixam infelizes não por causa de sua magnitude ou gravidade, mas pela forma como os tratamos. Os problemas sempre existirão, mas é como os enfrentamos que impacta nossa forma de viver. E repito, o sofrimento frequentemente nos dilacera porque não sabemos realmente como enfrentá-lo. Novamente, fugimos. Fugimos de aprender porque ficamos paralisados diante de uma situação e não vemos a solução. Por isso, perdemos a esperança. Porque nossa atitude perante a situação está equivocada.
Somos aquilo que alimentamos. Fingimos o contrário, mas vemos e até nos envergonhamos de tantas atitudes. Mas o que frequentemente preferimos fazer? Simplesmente alimentamos o que parece mais fácil: acomodamo-nos e pensamos que nossas ações não foram tão erradas, nem tão sérias ou dignas de correção. Que nada está errado, e, muitas vezes, acreditamos que o problema está nos outros. E assim, deixamos de lado a possibilidade de melhoria. Paramos de ser melhores porque é um caminho mais difícil de trilhar. Mas saiba: é o caminho mais cheio de significado.
Quantas vezes, de forma hipócrita, dizemos que o nosso "eu" de hoje não é o mesmo que o "eu" de ontem. E, de fato, isso é verdade! Mas o seu "eu" de hoje é melhor ou pior que o de ontem? E acredite, muitas vezes é pior, porque não soubemos enfrentar com humildade as dificuldades que precisavam ser melhoradas e aliviadas. Sempre preferimos lamentar. Sempre preferimos nos sabotar.
Sentimo-nos tomados por um grande vazio porque não sabemos o que pode nos preencher. Não conhecemos verdadeiramente o que carregamos dentro de nós. Esse vazio pode ter tantas respostas, mas precisamos aprender a fazer as perguntas certas. Podemos nos surpreender ao perceber que talvez nunca tenha havido um vazio e que poderíamos ter sido muito mais completos. Poderíamos finalmente entender o que realmente somos e, assim, nos amar mais. Precisamos parar de cultivar o que os outros veem nas aparências e começar a regar corretamente o jardim da nossa alma. Ser feliz é para aqueles que estão determinados a fazer os sacrifícios necessários em busca do autodesenvolvimento. É saber que se sabe muito pouco, mas continuar faminto para explorar o infinito desconhecido.
Não há maior beleza do que alguém que se compreende. Alguém que se permite ser, que se ama, e que não se sabota. Alguém que conhece seus limites, mas não tem medo de ultrapassá-los. Alguém que enfrenta a tempestade da solidão porque aprendeu a viver sabiamente nos momentos em que está só. E a solidão, quando bem processada, pode nos impulsionar ainda mais, pois começamos a compreender o silêncio que fala volumes sem proferir uma única palavra. Devemos entender que não adianta ter os outros, amores, diferentes presenças em nossas vidas se não buscamos cultivar nossa própria companhia. Se não completarmos, em nossos momentos de solitude, o que somos, o que sentimos e o que espalhamos, se não soubermos lidar com nossos medos, nossas dores, nossas feridas, nossos erros. Se não soubermos quem realmente somos, estaremos sempre sozinhos, mesmo em meio a uma multidão, mesmo ao lado de um grande amor ou com toda a família reunida.
Temos que ter coragem de enfrentar os vazios do inexplorado, do universo desconhecido da nossa própria alma. Aqueles que buscam se conhecer e se apaixonam por si mesmos a cada dia, que enfrentam suas próprias feridas, jamais estarão sozinhos. Sempre haverá sentimentos a serem compreendidos, razões a serem questionadas, novos mundos a serem visitados. Quer ser feliz? Primeiro, conheça a si mesmo. Encare quem você é. Encare o que sente. Não se lamente pelo superficial; mergulhe no desconhecido com toda a coragem. As respostas estão prontas para serem descobertas, mas você precisa começar agora a fazer as perguntas necessárias. É preciso ousar tomar ações que o tirem da sua zona de conforto. Não perca o encantamento com a vida. Não perca suas conexões. Não deixe de sonhar. E você saberá que jamais foi um grande vazio, nem um deserto eterno, mas sim um vasto universo que precisa, e logo irá, ser explorado.