Ah... como é difícil admitir isso, mas eu fracassei. Na verdade, não sei se é difícil, se tenho medo ou se simplesmente me falta coragem, apesar de muitas pessoas dizerem que o medo é a ausência de coragem – talvez isso soe redundante.
Sempre pensei que era um cara muito inteligente e à frente do meu tempo, especialmente quando tinha cerca de 18 anos ou menos. Lembro que diziam que eu era muito maduro para a minha idade, pois possuía valores que já estavam perdidos, e até minha cultura parecia de gerações bem anteriores à minha. Quando a tecnologia ainda era novidade e servidores eram coisa de empresas grandes ou bem estruturadas, eu era praticamente um mestre, mesmo sendo menor de idade... Lembro de montar redes LAN para conhecidos ou amigos jogarem, e até de configurar um servidor (mais para hospedar, na verdade) em casa, para que as pessoas pudessem criar seus próprios servidores de jogos, sites, e-mails e diversos programas... Fiz tantas coisas que eram, digamos, "à frente do meu tempo". Falando assim, posso até parecer velho, mas ainda não passei dos 25.
O problema, em si, é que fracassei miseravelmente em me tornar alguém melhor ou, talvez, sequer em ser alguém. Não sei exatamente como fracassei, muito menos onde fracassei profissionalmente, pois, sério, tenho duas graduações, mais de 90 cursos (pago por eles), inclusive em Harvard, Cisco e até certificações da Microsoft, mas, ainda assim, sinto que fracassei – e continuo fracassando – mesmo passando por tentativas e erros. E, quando se trata de ser uma pessoa, no âmbito pessoal, também fracassei; não sei como, nem onde, mas fracassei miseravelmente.
Perdi um dos meus três amigos, atualmente consulto meu celular umas 3 a 4 vezes por dia e, no total, não ultrapasso cerca de uma a duas horas diárias no aparelho (excluindo quando estou fora ou viajando, onde o tempo de tela geralmente ultrapassa oito horas, já que assisto anime). E hoje não consigo me sentir bem comigo mesmo, não consigo ter um relacionamento romântico com nenhuma garota, não porque não sinta atração, mas simplesmente porque não tenho vontade de conversar com alguém nesse sentido. Simplesmente não consigo gostar da maioria da minha família, principalmente por conta das atitudes deles, com as quais não concordo. Além disso, considero família as pessoas que estão comigo, que compartilham momentos ou que criam laços, e não aquelas que apenas compartilham parte do meu DNA.
Será que minha solidão e meu isolamento me trouxeram esse sentimento? Duvido. Minha solidão e isolamento são escolhas minhas e, na maioria dos casos, me deixam bem; e minha indiferença diante do que não me afeta é, inclusive, algo de que me orgulho. Na verdade, esse é o único ponto onde me sinto bem e realizado.
Sinceramente, tudo isso parece uma confusão sem fim. Um paradigma ou paradoxo insano. Meu fracasso profissional, ao qual dediquei – e dedico – muito, construindo um nome no campo da tecnologia, participando de vários projetos abertos e até de alguns fechados, montando um portfólio no GitHub que ultrapassa seis mil seguidores. Meu fracasso pessoal, mesmo sabendo que desfruto da minha solidão, isolamento e indiferença diante da maioria dos problemas. Contudo... onde estão esses fracassos? Onde exatamente errei? Por que não consigo reconhecer o erro, ou por que acredito que há um fracasso? Que tipo de confusão mental é essa?
Ah, minha psicóloga disse que sofro da síndrome do impostor: acho que sou ruim em tudo, que não faço nada bem, e que fracassei miseravelmente em tudo, mas, na verdade, estou bem e indo bem – só que me engano e minto para mim mesmo dizendo o contrário. Mas, honestamente? Não sei, não consigo ver ou entender isso.
Será que minha depressão crônica está causando isso? Mesmo que esteja um tanto estável? Ou será porque cresci ouvindo dos meus pais biológicos que eu era uma vergonha e que deveria ter morrido? Mesmo ouvindo dos meus pais adotivos que eu era um orgulho e o melhor que eles poderiam ter?
Mudando um pouco de assunto, mas ainda dentro dele, às vezes choro à noite e nem pareço a mesma pessoa durante o dia ou na frente dos outros. Quando estou fora com meus fones, ouvindo uma música que realmente gosto, danço sozinho e até balanço, se não estiver dançando. Sorrio ao ver algo que acho legal ou uma pessoa com quem tenho uma conversa agradável, e perceba: até pessoas que não concordam comigo, mas sabem debater sem atacar, me fazem sorrir, pois somos humanos com culturas, ideias e visões diferentes, mas que ainda conseguem ter um debate construtivo. Também dou risadas, até risadinhas, ao ver algo engraçado. E tudo isso na rua, mas, na maior parte do tempo, minha mente está pensando em como consegui fracassar em todos os aspectos da minha vida e como sou uma pessoa desprezível, enquanto, ao mesmo tempo, penso que sou um cara incrível e ouço de outros o quanto sou inteligente.
No fim das contas, sou um cara falho, confuso, tolo, bom, inteligente, ou um pouco de tudo? Honestamente, não sei.