Ir para o conteúdo principal

o prazer de nao fazer nada

Escrito por
Yuri Cunha
Yuri Cunha
Publicado em
12 de abr. de 2025
Visualizações
--
Comentários
--
o prazer de nao fazer nada

Hoje é sexta-feira aqui no Espírito Santo, e a chuva cai como uma melodia suave que embala meus pensamentos. Morando num aconchegante apartamento, longe do tumulto, encontro-me sozinho – um contraste em meio à rotina agitada do trabalho com servidores e bancos de dados. Em um universo em que cada byte e cada script parecem cobrar atenção, hoje permiti-me uma pausa, um instante de puro relaxamento.

Logo pela manhã, após um café bem forte e sem pressa, percebi que o dia se descortinava tranquilo e promissor. Sem notificações urgentes, sem demandas críticas da infraestrutura digital, o ambiente ao redor permanecia silencioso e organizado. O apartamento estava impecável, e, curiosamente, a ausência de exercícios – que normalmente evitava – permitia-me imaginar um dia sem a pressão de fazer algo “produtivo”. Era um convite irrecusável para um mergulho na calmaria.

Antes de abrir o laptop, sentei-me em silêncio, permitindo que meus pensamentos se revelassem um a um. Nesse instante, a mente começou a sussurrar: “Talvez seja hora de revisar aquele log antigo do servidor? Ou ainda, checar se aquele script de backup pode ser otimizado?” Esses murmúrios lembravam uma conversa inconstante, uma espécie de alerta que insiste em transformar qualquer instante de pausa em um turbilhão de ideias e ações.

Foi então que recordei uma técnica simples, mas transformadora, para lidar com esse fluxo incessante de pensamentos. Imagine cada pensamento com uma forma única, quase como se ganhasse vida própria. Dê a eles nomes – pode ser João, Ana ou até mesmo um apelido descontraído que reflita sua personalidade. No meu caso, esses “amigos” virtuais aparecem com sugestões sobre ajustes e melhorias: “Ajuste a configuração do servidor”, “Cheque aquela consulta no banco de dados” ou “Lembre de atualizar o software de segurança.”

Mas, ao imaginar essa cena, percebi que não sou refém desses lembretes. Sou o anfitrião desse encontro silencioso, quem decide qual conselho merece uma resposta e qual pode ser deixado de lado. Assim como podemos ouvir um velho amigo sem necessariamente acatar todas as suas recomendações, aprendi a dar o devido espaço ao que realmente importa. Hoje, decido ouvir essas vozes com serenidade e responder com um simples, porém firme, “obrigado, mas está tudo bem assim.”

A sensação de liberdade é quase palpável. Em vez de transformar cada minuto de descanso em uma busca frenética por novos desafios, escolho aproveitar o simples fato de estar presente, de saborear essa pausa sem compromissos. Porque, no fim das contas, a vida muitas vezes nos aprisiona na ideia de que cada instante deve ser investido em algo grandioso ou revolucionário. Porém, há uma beleza inegável na simplicidade de não fazer nada – um espaço onde a criatividade e a paz se encontram sem pressa.

Neste dia chuvoso e pacífico, permito-me alongar o tempo para contemplar a chuva, o som distante da água batendo nas janelas, e a calmaria que envolve o ambiente. Cada pingos me lembram que a natureza também sabe a arte de repousar, de se renovar sem a necessidade de excessos. É nesse compasso natural que encontro inspiração para repensar minhas próprias prioridades, para reconhecer que, às vezes, o verdadeiro valor está na pausa.

Entre um pensamento e outro, uma nova perspectiva se revela: o paradoxo entre a produtividade digital e o descanso necessário do corpo e da mente. Trabalho com a precisão de servidores, mas também aprendi que o sistema humano precisa de intervalos, de momentos para desfragmentar e reorganizar a memória, mesmo que isso signifique simplesmente apreciar o silêncio.

No fim, decido clicar no botão “Publicar” – não para lançar um novo projeto, mas para registrar este instante de serenidade. Fecho o laptop e me permito, por algumas preciosas horas, estar em paz com mim mesmo. Sem a pressa de resolver pendências ou de ajustar configurações, abraço o momento de existência pura, onde a calma se torna o maior presente.

Obrigado, meus pensamentos inquietos. Hoje, aprendi que a tranquilidade se encontra não na constante busca por soluções, mas na sabedoria de permitir que o tempo siga seu curso. Ao reconhecer que posso ser o gerente dos meus próprios pensamentos, desfruto do simples prazer de não fazer nada – e, por isso, encontro uma nova forma de produtividade: a do ser.

Editar no GitHub
Última atualização: 12 de abr. de 2025